#001: Aos LGBTs cristãos

Quando nasci minha mãe logo começou a frequentar a Congregação Cristã no Brasil (CCB) e se batizou, mas meu pai não.

Cresci indo à igreja e sempre gostei bastante. Sem pressão ou sem ninguém me incentivar, batizei com 12 anos (idade mínima na CCB), e fiz isso porque com essa idade comecei a sentir a presença de Deus, a virtude.

Desde as brincadeiras da infância, já manifestava alguma tendência ou inclinação para a homoafetividade. Mas nunca ninguém conversou isso comigo, não sei se não percebiam ou se achavam natural. Talvez não tivessem (como a maioria hoje ainda não tem) esclarecimento sobre o assunto.

Em minha juventude, sempre estive envolvido nas atividades da igreja. Sempre gostei e zelei muito por participar das visitas com mocidade, das Reuniões de Jovens e Menores, Reuniões de Mocidade, reuniões de evangelização, escolinhas de música… Isso era a minha vida, minha distração, era onde eu me encontrava. Aprendi muito a servir a Deus. Lia muito a Bíblia e fazia isso com prazer.

Acredito ter um bom esclarecimento da Palavra, do Evangelho, da Graça, da Salvação. Aprendi muito também durante minha faculdade, pois mudei de cidade e morei um bom tempo sozinho, longe dos meus pais e família. Na faculdade, porém, mantive um bom testemunho. Minha percepção de mundo começou a se ampliar, também.

Sempre, absolutamente, vivi para o Senhor dando o melhor testemunho que eu pudesse dar, onde eu estivesse. E, sempre, lutei contra meus sentimentos homoafetivos.

Ninguém nunca soube sobre eles, embora acredito que muitos desconfiassem, pois também nunca namorei. Como tinha um porte cristão “impecável”, talvez não quisessem acreditar ou me questionar sobre isso, embora sempre me questionavam sobre o casamento (“quando vai casar?”).

Minha vida era a igreja, e amava isso! Congregava todos os dias que podia!

Tinha muito desejo de ter filhos, pois amo crianças. E sempre me questionava se isso seria possível, já que era gay.

Como um “bom cristão”, acreditava que isso era uma terrível abominação e muitas vezes, (muitas mesmo!) chorei aos pés do Senhor: ou para me perdoar, senão para me libertar, ou para me sustentar, ou para me guardar, ou para me suportar. Chorava muito, reclamava e questionava querendo entender o porquê de eu ser assim, o porquê eu não conseguir mudar e ser “normal”.

Em todas as vezes, absolutamente, o Senhor sempre me respondeu com alívio, ajudando-me a carregar a “minha cruz”, aliviando o peso do meu fardo, e me consolando.

Pela Palavra pregada na CCB, sempre que estava em estado de extrema tristeza, Deus me dizia que “isso” era para Sua glória, ou que me amava, ou que eu não pecaria.

Fui músico, e devido ao bom testemunho, sempre estive em “destaque”, sempre fui visto como um moço exemplar na igreja, e isso me corroía por dentro, porque apenas Deus sabia a minha luta interior. […] Muita coisa aconteceu nos meus primeiros 15 anos de cristão batizado.

Mas em resumo, sinto falta desses meus primeiros 15 anos*, nos quais, embora com consciência pesarosa devido a minha homoafetividade, encontrava a certeza de que Deus me abraçaria todas as vezes que eu estivesse no “fundo do poço”.

Entretanto, por um descuido, comecei a não orar mais, a congregar pouco, me afastei um pouco dos amigos da igreja e me isolei em casa (morava sozinho). Conheci aplicativos na internet e, neles, conversei com caras gays. Tinha intenção apenas de falar com alguém, de chorar com alguém, de conversar com alguém que sentisse o mesmo que eu.

Da pior maneira que poderia acontecer, me encontrei com um desses caras. Conversei com ele, parecia sensível, amável. Parecia ser o que eu precisava, um companheiro e alguém para conversar sobre aquilo que não poderia falar com mais ninguém. Me abri inteiramente a ele, na esperança de que pudesse me compreender (ele também se dizia “crente”, e de fato ia à igreja).

As poucas vezes que me encontrei com esse “cara” vi que tudo o que eu queria encontrar não era exatamente o que eu tinha obtido. A consciência de que aquilo era errado (diante de Deus) não me permitiu prosseguir. Além disso, o tal “cara” mostrou possuir uma vida cada vez mais dissoluta, cada vez mais se envolvia com todos gays que pudesse se encontrar.

Com algumas semanas, duas ou três, assim que percebi isso, eu fiquei completamente sem saber como me livrar disso. Temia que ele pudesse me expor e acabar com toda minha vida e “testemunho”, pois eu não estava preparado para contar o meu “segredo” para minha família e temia causar qualquer escândalo na igreja.

Sei que a graça de Deus pode nos conceder salvação, mesmo que tenhamos deslizado, vacilado, caído. O amor de Deus é grande, Sua misericórdia infinita e quantas vezes nos arrependermos e chorarmos aos pés Dele, Ele sempre estará pronto para nos amar, para nos perdoar, para nos salvar. Mas, e nós? Sempre estaremos prontos para nos arrepender? Sempre reconheceremos nossos pecados**?

Gostaria que os LGBTs cristãos refletissem bem sobre o que querem. Se ainda acredita que é errado, aconselho que não o façam, que não se entreguem, e que busquem de Deus a compreensão da nossa condição. Pois se você ainda acredita que é pecado, a marca de um deslize será muito dura. A consciência sempre acusará, e haverá uma porta aberta para que o adversário lance a dúvida: “Será que Deus ainda te ama?”.

A resposta para essa pergunta, creia, sempre será: “Sim, Ele te ama imensamente!”

Não considero que uma relação sexual gay seja mais pecaminosa que uma fornicação entre um casal heterossexual, ou do que se irar contra um irmão, por exemplo, o qual é digno do fogo eterno, como lemos no Sermão da Montanha do evangelho segundo Mateus. Creio que pecado é pecado, todos igualmente condenáveis diante de Deus, por isso, necessário o arrependimento.

Mas o que digo, aos que estão em dúvida, aos que querem e ainda tentam se guardar desse sentimento, é que a marca do pecado** pode trazer um peso difícil de suportar, ainda que a Palavra continue falando “Eu te amo”, há sempre uma brecha para o adversário dizer “Será que é com você?”.

Há, porém, aqueles para os quais uma relação homoafetiva não é pecado, que a consideram como normal, e que acreditam que Deus não se importa com nossa vida sexual . Minha mensagem para estes é que vivam sua vida, como queiram, nos limites da consciência com Deus, mas, se querem ser cristãos legitimamente, nunca devem estimular outros, em igual sentimento, a viverem como vivem. Cada gay cristão, seja aquele que está se guardando para não “errar”**, seja aquele que está vivendo uma união estável e homoafetiva, não deve impor ao outro sua condição como sendo a que Deus quer ou aceita. De juízo, basta os que estão de fora e não podem, de maneira alguma, nos entender.

Em relação a isso, devemos respeitar muito os irmãos que não são gays. Eles jamais (jamais!), poderão entender nossa situação, jamais poderão compreender que é um sentimento intrínseco, e que não podemos mudar esse sentimento, ainda que muito quiséssemos.

Não culpem esses irmãos cristãos não gays de não entenderem nossa situação. Ame-os, respeite-os, faça de tudo para não os escandalizar. Deus nos ama, e ama a eles também. E Deus de modo algum quer que sejamos escândalos um para o outro.

Se os irmãos não gays não nos compreendem, tentemos compreendê-los nós, e viver, de algum modo, em união uns com os outros.

A seu tempo, seja aqui na nossa vida terrena, seja na vida eternal, entenderemos os mistérios de Deus, que quer que todos se salvem, todos!

Supliquemos com insistência por toda a humanidade, oremos por todos, intercedamos por todos, porque isso é bom e agradável a Deus, que quer que todos se salvem, e venham ao conhecimento da verdade, porque Jesus Cristo homem, é o Mediador entre Deus e os homens, que se deu a Si mesmo em preço de redenção de todos, como ensina Paulo em I Timóteo 2:01-06.

Eu também sou cristão!


* Quando escrevi o texto eu tinha saudade do tempo em que lutava contra o sentimento, mas, de um modo que não sei explicar, Deus abriu minha mente e me deu muito paz e conforto, uma paz verdadeira junto da certeza da minha salvação. Hoje, embora ainda não me relacione, tenho certeza da minha salvação e só não me relaciono, ainda, pois desejo aproveitar minha liberdade na igreja para conversar com os irmãos, incentivando-os a buscarem uma melhor compreensão deste assunto. Atualizado em 10/10/2017.

**Quando oriento aos LGBT cristãos que não pequem, me refiro à não se entregarem à qualquer um no sexo pelo sexo, e não ao sentimento homossexual em si. Sugiro sim que cada gay cristão deve se aceitar como naturalmente é, e procurar entender que Deus o ama imensamente e, depois de entender isto, aceitar que a homossexualidade é inata, natural. Aos que já a compreendem assim, lembro que embora eu acredite ser um sentimento inato, não considero (segundo a minha fé) conveniente se entregar à promiscuidade, algo muito comum no mundo gay. Atualizado em 13/05/2017

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Tags: CCB; gay; homossexual; homoafetivo; cristão; crente; Congregação Cristã no Brasil.

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