Já ouvi conselhos em Reuniões de Mocidade, dizendo: Se você, moço, não gosta de moça, não se case com uma. E outros mais, dizendo: se você percebe que o seu desejo sexual não é o “natural”, contenha-se, pois Deus te ama mesmo assim, esteja entre nós, e contenha-se, contenha-se. E, também: o casamento que aceitamos é o entre um homem e mulher, como é desde o princípio.
Eu, no entanto, recorro a essa mesma lógica, de usar as coisas como eram no princípio, e relembro que, no princípio, Deus criou o homem para ser vegano e adepto do nudismo, além de, parece-me, solitário, já que no princípio não havia quem estivesse “como que diante dele”, pois Deus fez os animais, o macho e sua fêmea, e determinou que Adão lhes desse nomes e, por isso, por algum tempo, houve apenas Adão.
Essa ideia, de que o homem deveria se despojar de tudo, até mesmo das relações afetivas, é defendida por Paulo, que recomenda aos cristãos de Coríntios guardarem a virgindade, evitando o casamento*. Ele defende isso argumentando que o solteiro cuida melhor das coisas do Senhor e, assim, pode se dedicar inteiramente à Deus. É claro que essa regra deveria estar inserida em um contexto que fizesse muito sentido, possivelmente alguma perseguição que inviabilizasse a manutenção e união das famílias.
Entretanto, respondendo aos coríntios, que ficaram tão preocupados com o celibato proposto (é, muitos cristãos heterossexuais ficaram apavorados com essa ideia de não fazer sexo, nem constituir família, afinal, quem é que pode conter os desejos sexuais por amor ao Senhor?), Paulo dizia:
– Ora, se vocês não podem receber este mandamento, não o recebam, pois eu apenas queria poupar vocês de algumas tribulações, mas não é bom que, por não ser casado e ter necessidade disto, um homem cristão ande inflamado, desejando as mulheres que vê pelas ruas desta cidade promíscua, e onde há diversas prostitutas cultuais que inflamam os desejos carnais. Se for para andar assim, inflamado, desejando relações sexuais porque não se é casado, é melhor que se case e, saibam, não há nenhum pecado nisto, mesmo que eu havia dito: “não se case”.
Novamente, relembro que, ao olhar para o solitário Adão, Deus disse a si mesmo: não é bom que o homem esteja só, farei para ele uma mulher, uma companheira que seja como ele e que o complete. É verdade que Ele criou Adão e, depois, Eva. Mas, junto desse casal, criou toda a diversidade que contemplamos na humanidade. Inseriu no código genético desse casal tudo aquilo que nos define.
A recomendação ao celibato, de Paulo, por ser algo impossível e terrível para muitos, caiu em desuso para que os cristãos não vivessem inflamados com a sensualidade, por não poderem nunca se entregarem aos desejos, mesmo que dentro da moralidade de um casamento.
Igualmente, embora Deus no início criou apenas o homem, logo viu que não era bom o homem viver sozinho, mas que deveria ter uma companhia que o entendesse, que estivesse com ele em todos os momentos e para “serem, ambos, dois em uma só carne”. E, sobre isto, é claro que não significava sexo, mas que ambos se completariam emocional e espiritualmente (como já ouvi em diversas Reuniões de Mocidade).
Nós, gays cristãos, no entanto, ainda que somos criaturas de Deus, em semelhança a Adão, tendo as mesmas necessidades sexuais, afetivas e emocionais que os demais cristãos, somos impedidos tanto de conter nossos desejos sexuais, pois nos proíbem o casamento (o que contribui para que vivamos inflamados em nossos desejos) e, como se não bastasse isso, somos doutrinados a viver na solidão, mesmo Deus havendo dito, desde o princípio: Não, não é bom que o homem esteja sozinho.
Creio que no momento em que Deus disse isso, ele olhasse para o coração de muitos de nós, gays cristãos, impedidos de todas as formas de ter, à vista de todos, uma relação sincera de afeto e carinho. Não, não é bom que o homem viva sozinho, foi o que Deus disse, desde o princípio.
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*É interessante como uma recomendação bastante clara, como essa, passe “despercebida” hoje em dia, ainda que a ela seja dedicado todo um capítulo (1 Coríntios 7), enquanto que apenas dois versos de Levíticos (que já deveriam estar em desuso, conforme explicado na carta aos Gálatas) ou dois capítulos descontextualizados (Gênesis 19 e Romanos 1) ainda oprimam a tantos de nós! A esperança é uma vida com Cristo, independente da fé das demais pessoas, produzindo os frutos de amor para com todos!
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Tags: CCB; gay; homossexual; homoafetivo; cristão; crente; Congregação Cristã no Brasil; LGBT; homo ccb.
Na vida espiritual não se casa nem se dá em casamento…
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De fato, na vida eterna, e em corpos celestiais não haverá sexo. Na vida terrena e no corpo terreno, contudo, o sentimento de afeto e sexual é intrínseco aos heterossexuais assim como aos homossexuais.
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EU LHE FAREI UMA ESPOSA
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E vc acha justo um homem homossexual se casar com uma mulher? Ou vc tb vai julgar aqueles homens homossexuais que se casaram com mulher e, depois, tiveram de se separar por incompatibilidade? Ao homem heterossexual certamente Deus fez a mulher heterossexual e vice-versa.
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