Gritei. Sim, gritei.
Foi um singelo grito. Primeiro, talvez, de desespero; depois de perdido; de achado; de conciliador iludido; por fim, de revolta escancarada.
Gritei e não me ouviram.
“Vai passar!”, talvez pensassem. Não a minha dor ou revolta, isso pouco lhes preocupa. “Vai passar mais esse grito; não vai nos abalar”.
Imóveis ficaram. Não escutaram nem escutam.
Silenciaram-se.
Sem sonho nem revelação, em proveito ou oposição ao meu grito. Não houve. Não ouvem.
Gritei no silêncio da juventude, em lágrimas. Gritei na calada da mocidade, em zelo. Gritei na mudez própria dos adultos, em dedicação. Gritei na revelação do hoje, na reclusão.
Não me ouviram. Não perceberam. Esquivando-se, calaram-se.
Gritei baixo, gritei pouco, gritei como louco: salvem-me, não me encaixo!
Não me ouviram. Sequer percebem que já há muito me perderam, aos inaudíveis gritos que foram dados.
Não houve profeta, não houve visão, não houve revelação… Nada que direcionasse meus passos ao “bom caminho”, como dizem. Não houve porque não ouvem.
Não houve juízo nem acepção, porque não perceberam minha “inclinação diabólica”, como dizem. Ao contrário disso, por cegos estarem e verem apenas com os próprios olhos, houve bajulação.
Têm olhos e não viram, boca e não falaram, ouvidos e não ouviram nem ouvem. Como o mudo, cego e surdo ídolo, ao qual abominam, não ouvem, não se importam com a perda e por ela fiam.
Não ouvir e perder a tantos que não se encaixam lhes é conveniente. Evitam embaraços e os sediciosos se espalham.
Grito, gritei, gritamos. Não houve um movimento sequer que os fizessem ouvir.
Silenciosamente gritei, juro.
Não ouviram nem ouvem.
Por não ouvirem, para muitas coisas consegui dizer: adeus!
Não ouvem, graças a Deus!
Gritei. Gritemos. Com sorte, não nos ouvirão. Como se não vissem, permitirão que nos desgarremos à liberdade, enfim.
Gritemos, a fim de que não nos ouçam. Percebendo que não somos ouvidos, nos livraremos daquilo que tem olhos e não vê, boca e não fala, ouvidos e não ouve.
Percebendo que estes não nos ouvem, poderemos nos inclinar Àquele que, apesar de invisível aos nossos olhos, mais do que nos ouve, pois nos compreende e ama.
Eis que clamo: Violência! Porém não sou ouvido. Grito: Socorro! Porém não há justiça.

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Esse foi babado! Você é estupendo, amigo. Que o Senhor continue iluminando sua mente e lhe recompensando pelo seu amor. s2
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Amém! Que ele nos ilumine a nós todos. E nós ajude a viver fora do armário! 💚
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