#004: Um anjo de Deus em minha vida.

Desde meus 17/18 anos moro fora da minha cidade natal. Mudei-me para estudar, e há 11 anos moro fora, embora sempre estou em minha cidade natal e minha comum congregação também seja ali. 
Eu havia acabado de me oficializar como violinista, mas logo no início de 2009, eu ia até a rodoviária da cidade onde estudava para embarcar no ônibus para ir à minha cidade natal, congregar, num sábado. Saindo da rodoviária, do ônibus vi um moço por quem me afeiçoei e, a partir daí, fui chorando e “reclamando” com o Senhor, pelo fato de eu ser diferente dos demais irmãos, por desejar “coisas” diferentes, por (embora ter um testemunho impecável aos olhos de todos) sentir aquilo que (aos olhos de muitos, senão todos) era a maior abominação imaginável.

Eu queria, durante todo aquele trajeto, desistir de ser músico e pensava comigo que seria bom se eu fosse à igreja apenas para congregar, sentar no último banco sem ser visto nem percebido por ninguém. Esse era meu desejo, me tornar invisível em lugar de um “moço exemplar” (como até hoje sou visto, já que ainda ninguém sabe sobre minha homoafetividade).

Desci do ônibus, ao chegar na rodoviária da cidade vizinha à minha (eu precisava fazer baldeação), com o propósito de parar de tocar e de me tornar o mais invisível possível.  Enquanto eu esperava para pegar a mala do bagageiro, em frações de segundos, alguém (um homem ou um irmão, não sei) passou por mim, tocou em meu ombro e, sem parar de andar, disse apenas estas palavras “Músico do Senhor Jesus!”. Ele entrou rapidamente no ônibus sem entregar passagem alguma, e dizendo algo como que em línguas (ao menos não consegui discernir o que ele falava e, tão pouco, ver o rosto dele).
Eu nunca poderei contar este testemunho na igreja. Também não posso afirmar que foi um anjo (embora eu creio muito nisso). Mas, instantaneamente, senti a virtude, uma alegria bastante grande, tive que me conter para não falar em línguas, e também para não chorar ali em meio às pessoas que transitavam entre os ônibus.

Isso me deu forças de modo que nunca parei de tocar. Também ensinei a música a diversos irmãos, encaminhei para a oficialização musical alguns deles. Cresci na graça e conhecimento do Senhor e do mistério de Cristo.

Deus já falou inúmeras vezes, “cara a cara”, pela Palavra comigo a este respeito. Em nenhuma delas me lançou fora, ao contrário, sempre me abraçou e, embora demorei para entender, sempre me mostra que há um propósito!
Deus tem um propósito muito grande, um plano de salvação muito maior do que o que podemos imaginar. Não critico os irmãos por não compreenderem, entre tantas coisas, a homoafetividade (ou homossexualidade). Mas creio que a diversidade (não apenas em relação à sexualidade, mas toda a diversidade, inclusive de crenças e pensamentos) faz parte de um propósito divino. Afinal, se todo o corpo fosse olho, onde estaria a audição? E se todo o corpo fosse ouvido, como enxergaríamos? 
Precisamos aprender a ser tolerantes, e a amar o que é diferente de nós. Assim, um dia, poderemos desfrutar, em plenitude, o amor infindável de Deus.


Tags: CCB; gay; homossexual; homoafetivo; cristão; crente; Congregação Cristã no Brasil; homo ccb.

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