Embora eu não me lembre muito bem dos discursos que ouvi na CCB durante minha infância, quanto à homossexualidade, eu aprendi desde cedo que ser gay era errado, pois naquela época (a saudosa década de 90) menino usar brinco ou não jogar futebol, por exemplo, eram motivos suficientes de deboche:
Eu levei vinte e oito anos para começar a aceitar minha homossexualidade, para me aceitar. Quando era mais jovem, até meus 12 ou 13 anos talvez, eu tinha uma relação muito próxima e forte com minha irmã e mãe, erámos bons amigos.
Quando entendi que eu era gay e por ver, na rua e na escola, as crianças sofrerem tanto com aquelas chacotas, apenas por serem diferentes, eu temi e me escondi. Reprimi-me para não ter trejeitos, tornei-me quieto para que minha voz não me denunciasse, afastei-me cada vez mais daqueles que eu amava (embora fisicamente perto, emocionalmente eu estava distante). Eu me isolei e ninguém mais sabia quem eu era. Conheciam-me apenas pelo exterior ao ponto de eu parecer “o moço certo” para qualquer “boa moça” da igreja: tive “sucesso” em me reprimir!
Minha irmã me disse, certa vez:
– Depois que você foi morar fora por causa da faculdade, ficou muito quieto!
Ela não sabia que o real motivo era eu estar me reprimindo e sufocando demasiadamente meus sentimentos e emoções. Eu não poderia demonstrar afetividade excessiva, pois inconscientemente eu acreditava que evidenciaria, também, a minha homoafetividade.
Hoje, pela grande misericórdia de Deus, vejo-me cada dia mais perto e mais aberto com minha mãe e irmã. Contudo, sei de algumas histórias de pais e filhos, cristãos, que têm conflitos tão grandes, que travam uma guerra tão desnecessária, ferindo-se mutuamente, apenas porque os filhos são gays.
Pais, não é essa a luta que vocês têm que travar. Não é lutando e desprezando o sentimento diferente de seus filhos, gays cristãos, que vocês os “ganharão para Cristo”. Não é com ódio, rancor, ira, peleja ou quaisquer outras coisas semelhantes a essas que vocês conseguirão colocar no reino dos céus o filho gay que têm.
Eu imagino o quanto deve ser difícil para vocês aceitarem um filho gay e, mais ainda, aceitarem um filho gay que têm relações homoafetivas, afinal, pais e filhos aprendem que isso é errado, pecado e, ainda pior, abominação.
Pais, orem e vigiem por que o fim vem, mas sobretudo tenham ardente caridade uns para com os outros, porque a caridade cobrirá uma multidão de pecados (1 Pedro 4:7-8). Se, de fato a homossexualidade ou sua prática são pecados, amem seus filhos e sejam caridosos com eles, pois, assim, quem sabe Deus poderá lhes converter como vocês tanto desejam.
Eu sei que vocês, pais, padecem e sofrem quando têm um filho gay. Sofram por amor a Deus, sim, mas façam isso fazendo o bem (1 Pedro 4:19). Se vocês têm um filho gay e, por amor a Deus, sofrem, oram e jejuam, fazem votos e se privam de tantas coisas em consagração para que Deus os livre “desse mal”, vocês perderão qualquer galardão se fizerem mal ao filho gay que têm, se o colocarem para fora de casa, ou se lhe privar de amor e carinho paternais.
Pais, vocês poderão dizer coisas semelhantes a essas a seus filhos gays:
– Não vou ter comunhão com essa má obra. (Efésios 5:11);
– Não vou aprovar o que é desagradável a Deus. (Efésios 5:10); ou
– Não serei companheiro dos filhos da desobediência. (Efésios 5:7).
Alguém também poderá tentar convencer vocês a não amarem seus filhos gays citando muitos versos da Bíblia que, ironicamente, é a fonte de amor supremo. Pais, ninguém vos engane com palavras vãs porque é sobre estes que vem a ira de Deus (Efésios 5:6). Lembrem-se de que aquele que corrompe ou que torna incompreensível a Palavra de Deus – o amor incondicional chamado Cristo – não deve ser ouvido por vocês.
Pais, tomem cuidado para que da boca de vocês saia apenas o que for bom e de edificação aos seus filhos gays, cristãos ou não, e que ouvem vocês. Jamais entristeçam o Espírito Santo de Deus e, por isso, toda a amargura, ira, cólera, gritaria, blasfêmias ou malícia não estejam na relação de vocês com seus filhos, pois os cristãos devem ser benignos e misericordiosos uns para com os outros, perdoando como Deus perdoou a cada um em Cristo (Efésios 4:29-32).
É importante que os filhos gays honrem seus pais, amando-os. Certamente! E vocês, pais, não devem provocar a ira dos seus filhos, mas criá-los na doutrina e na admoestação do Senhor (Efésios 6:1-4).
Ora se a doutrina do Senhor não se tratar de amor incondicional, se ela não se tratar de tolerância para com os “fracos”, se a admoestação não for com benignidade, bondade e afeição, não, não poderemos dizer, pais, que vocês são cristãos, porque o fruto do Espírito está em toda bondade, justiça e verdade (Efésios 5:9).
Pais, se de fato é a homossexualidade um pecado, vocês, que são espirituais, devem encaminhar o filho gay que têm com espírito de mansidão, olhando para vocês mesmos a fim de que vocês não deixem de ser cristãos. Além do mais, levem a carga de seus filhos e cumpram a lei de Cristo, amando-os incondicionalmente (Gálatas 6:1-2).
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