#028: Gays reconciliados em Cristo

Eu sei que para alguns são apenas coincidências, para outros a prova efetiva de que Deus fala conosco. Logo que me batizei, por exemplo, e já com meus quase 13 anos, após um culto, voltando a pé para casa com minha mãe e irmã, propus no meu íntimo que Deus me desse um sinal de que era na minha (emocionalmente conturbada) vida: pedi que, ainda naquela noite, eu visse uma “estrela cadente”. Eu pretendia ficar acordado até tarde da noite observando o céu, mas, assim que firmei esse propósito em meu coração, prontamente, uma estrela desenhou um breve risco no céu. Talvez, apenas uma pequena coincidência, para meu coração, grande alívio.

Já faz quase 19 anos que me batizei, e por um bom tempo coincidências assim têm me ajudado a acreditar que, de algum modo, Deus estava no meu caminho.

Eu não tenho propriedade para afirmar que algo é ou não pecado, nem para afirmar que alguma prática pode ou não lançar, decisiva e definitivamente, no “inferno”. Quem é que pode afirmar algo assim? Quem pode afirmar que algo pode separar do amor de Cristo? Ninguém!

Eu poderia dizer: está claro na Bíblia que os adúlteros não herdarão o reino de Deus! – e, por isso, poderia tentar afirmar que quem comete adultério será lançado no “lago de fogo e enxofre”. Porém, também está escrito: quanto aos adúlteros, Deus os julgará.

Não quero dizer (tão pouco acredito) que seja uma atitude cristã, no sentido de amar a Cristo, viver adulterando à espera de um juízo brando de Deus. Só quero dizer que não está escrito “Quanto aos adúlteros, Deus os condenará”, antes que “Deus os julgará”.

Eu não posso dizer a ninguém: ser homossexual não é pecado. Também não posso dizer: Deus não abomina um casamento entre homossexuais. Tenho convicção dessas duas afirmações, com base em interpretações da Bíblia, como tento expor em meus textos – e como foi difícil chegar a essas compreensões: foram 28 anos pensando estritamente semelhante ao que aprendemos na [1]Congregação!, e foi relendo sobre predestinação (em Efésios, Romanos etc.) que pude compreender que Cristo é nossa predestinação e que nele não há judeu nem grego, não há heterossexual nem homossexual…, mas ele é tudo em todos!

Já tive muitos sinais (que poderiam também ser entendidos como coincidências) sendo [2]auxiliar de jovens e menores, quer em [3]visitas com a mocidade, quer em [4]Reuniões de Jovens e Menores… Nos últimos dois anos tenho tentado me afastar um pouco desse cargo, em parte devido à correria do trabalho e do dia a dia, mas também por não me achar digno dele, já que minha compreensão (não só, mas principalmente) quanto à homossexualidade diverge daquela implícita nos discursos e conselhos que ouvimos nos diversos serviços realizados na CCB.

Mesmo acreditando que a homossexualidade (até mesmo “na prática”), não seja pecado (embora eu não possa comprovar isso a ninguém!), quando vou aos cultos e, em especial, às RJM, minha [5]oração de comunhão sempre foi algo muito simples, também muito profundo, como: Senhor, me perdoa, sou pecador.

Hoje o peso que recai em mim nem é o fato de eu ser homossexual, mas o de ser homossexual e estar com um cargo em uma Igreja que não aceita (porque não consegue ou não quer entender) a homossexualidade como natural. Essa minha oração poderia, então, ser entendida como: sou pecador diante desta igreja, me perdoe, Senhor. Ou como: Senhor, estou em paz contigo, mas em breve não estarei com esses irmãos, tão logo souberem sobre minha sexualidade, perdoa-me escandalizá-los.

Na última RJM que fui, eu tinha certeza de que não deveria estar ali com a mocidade, tive certeza de que não deveria ter liberdade alguma na igreja, e receei [6]recitar. No entanto, ao receber o verso (Salmos 25:11) e abrir a Bíblia para conferir o texto, li: Por amor do teu nome, Senhor, perdoa a minha iniquidade, pois é grande.

Era exatamente minha oração. Coincidência, claro. Motivou-me, no entanto. Recitei.

É a minha oração e, para mim, homossexual que sou, a “iniquidade” que me veio à mente, no mesmo instante, claro, foi a minha homossexualidade. Não por acreditar estar desagradando a Deus por ser gay (não creio nisso, não mais!), mas por estar fora do padrão compreendido pela igreja como o “único aceito por Deus”.

Pergunto-me se fosse algum heterossexual que tivesse recebido esse verso, qual seria a iniquidade que viria à mente dele? Por que assumimos, nós homossexuais, que nossa sexualidade (natural e intrínseca!) é um pecado, uma abominação? Realmente acreditamos nisso ou fomos condicionados a acreditar? Nos sentimos assim, excluídos do Amor de Cristo, quando Deus nos “visita” e nos dá “sinais”? Nos sentimos rejeitados quando Deus fala, dentro de nós, “te amo”? E se nos sentimos (ao menos eu me senti diversas vezes e ainda sinto) amados por Deus, porque damos mais crédito ao que nos dizem (aberração! abominação! escândalo!) do que ao que Deus insistentemente nos afirma em Cristo (eu amo você! eu amo você! eu amo você!).

É claro que alguns vão dizer: Ele te ama, sim, mas somente se você…

Não! O evangelho não tem “se”! Temos de aprender isso ou anularemos a Graça de Deus e tornaremos em vão todo o vitupério de Cristo!

Deus prova o seu amor para conosco porque Cristo morreu por nós, mesmo nós ainda sendo pecadores e, agora, somos justificados pelo Seu sangue (conforme Romanos 5). Todas as pessoas são pecadoras, e isso não tem a ver com sexualidade. Não éramos justos (e nunca teremos condições de ser), mas por meio da Sua boa notícia de amor, ele pôde nos justificar!
É isso o evangelho de Cristo: o amor incondicional de Deus que nos amou primeiro, mesmo que nenhuma pessoa merecesse! Não existe salvação por mérito, a não ser por mérito de Cristo. Não há nada que possamos fazer para pagar nossa salvação: ela é de graça e por graça! 
Todavia, quando recebemos algo impagável e de graça, tudo que podemos fazer é sermos imensamente gratos e agradar àquele que nos agraciou. Logo, se cremos haver recebido misericórdia, resta-nos sermos misericordiosos e se cremos seguir um mestre chamado Amor Perfeito, amorosos.

Aqueles que andam odiosos, rancorosos, querendo empregar o reino de Deus apenas aos que se dizem “perfeitos” (e não são, mas mentem), na verdade, sequer entraram nesse reino, pois pouco entenderam do Amor Predestinado, Cristo. Não entram, e tentam impedir que outros entrem. Se, de fato, nós cremos em Cristo como justo e justificador e, por isso, temos condição de entrar no reino de amor, no reino dos céus, no reino de Deus… demonstremos toda a gratidão que temos pela obra redentora de Cristo e, como Ele fez, amemos a todos sem distinção, oferecendo misericórdia e perdão, tal como recebemos.

Deus amou o mundo (todo o mundo!) de tal maneira que enviou seu Filho, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna, assim, Deus enviou a salvação, não a condenação (João 3:16-17). Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo, não levando em conta as transgressões das pessoas, e nos encarregou da mensagem da reconciliação (1 Coríntios 5:19).

Não há nenhuma coincidência em Cristo haver padecido por todos nós!

Novo e-mail: tambemsoucristao@gmail.com
Instagram: @tambemsoucristao_gaycb
[1] Congregação Cristã no Brasil (CCB), igreja tradicional evangélica. Site oficial: congregacaocristanobrasil.org.br
[2] Jovem solteiro que auxilia nas Reuniões de Jovens e Menores, e tem cuidado pelas crianças e demais jovens visando agregá-los e, de algum modo, orientá-los fazendo uma ponte com o Cooperador de Jovens e Menores (o equivalente ao “Pastor” de outras denominações e que é responsável pelas crianças e jovens de uma determinada localidade).
[3] Reuniões de moços e moças da CCB, acompanhados de Cooperadores de Jovens e Menores, que se faz na casa de uma pessoa com intuito de cantar Hinos e de orar.
[4] Reuniões de Jovens e Menores (RJM), como o nome já diz, são reuniões com crianças e jovens solteiros, geralmente realizadas aos Domingos pela manhã.
[5] Oração particular que se faz ao chegar na igreja, sempre em silêncio e para meditação com Deus (“comunhão”) elevando apenas o pensamento em oração (não se pronuncia palavras audíveis).
[6] Nas RJM cada criança e jovem solteiro tem liberdade de recitar um verso da Bíblia, todos recitam em conjunto um verso de um mesmo capítulo, fazendo uma sequência de recitativos.
TAGS: CCB, Congregação Cristã no Brasil, LGBT, gay, lésbica, assexual, transexual, cristão.

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